Implementando QoS em Roteadores Cisco

Implementar Qualidade de Serviço (QoS) em roteadores Cisco é uma estratégia essencial para garantir que aplicativos críticos, como voz e vídeo, tenham a prioridade necessária na rede. Quando a sua rede lida apenas com tráfego de dados, pode parecer que o QoS é desnecessário. No entanto, ao adicionar tráfego multimídia, como VoIP (Voz sobre IP), a situação muda drasticamente. Sem uma gestão adequada, a qualidade das chamadas de voz pode ser prejudicada devido ao compartilhamento de banda com outros tipos de tráfego. O QoS entra em cena justamente para evitar que isso aconteça, garantindo que o tráfego de voz tenha a prioridade que merece.

Cenário de Exemplo

Vamos considerar um cenário onde você tem duas unidades de uma empresa conectadas por uma rede MPLS (Multiprotocol Label Switching), utilizando roteadores Cisco. Suponha que você tenha um telefone VoIP em cada unidade que depende da rede para fazer chamadas. A rede interconecta as unidades através de uma configuração Frame/PPP (Point-to-Point Protocol) sobre MPLS. Aqui está a topologia básica:

  • Unidade 1:
    • VoIP: 10.1.1.2
    • Cisco: 10.1.1.1
  • Unidade 2:
    • VoIP: 10.1.2.2
    • Cisco: 10.1.2.1

O objetivo é configurar o roteador da Unidade 1 (com o IP 10.1.1.1) para priorizar o tráfego originado do telefone VoIP (IP 10.1.1.2) sobre qualquer outro tráfego na rede.

Passos para Configurar QoS

A configuração de QoS envolve várias etapas, cada uma delas projetada para dizer ao roteador como lidar com o tráfego específico. Vamos descrever o processo passo a passo:

  1. Criação de uma ACL (Access Control List): A primeira etapa é criar uma ACL que especifica quais pacotes devem receber tratamento prioritário. No nosso exemplo, a ACL identifica pacotes provenientes do IP 10.1.1.2, que é o telefone VoIP.
  2. Definição de um Class-Map: O próximo passo é definir um Class-Map. Este recurso informa ao roteador qual ACL usar para identificar o tráfego que precisa de tratamento especial. O Class-Map é, essencialmente, uma ponte entre a ACL e as políticas que vamos aplicar.
  3. Criação de um Policy-Map: Agora, é hora de definir um Policy-Map, que dita como o roteador deve tratar o tráfego identificado pelo Class-Map. No nosso exemplo, configuramos o Policy-Map para dar prioridade a 128 kbps do tráfego de voz.
  4. Aplicação do Service-Policy: Finalmente, aplicamos o Service-Policy à interface apropriada no roteador, garantindo que o roteador siga as regras estabelecidas para o tratamento do tráfego de voz.

Exemplo de Configuração

Aqui está um exemplo de como essas configurações aparecem no roteador Cisco:

!
version 12.1
service timestamps debug uptime
service timestamps log uptime
service password-encryption
!
hostname roteador
!
enable secret 5 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
enable password xxxx
!
class-map voice
match access-group 100
!
policy-map voice
class voice
priority 128
class class-default
fair-queue
!
memory-size iomem 25
ip subnet-zero
!
interface Serial0
ip address 172.16.0.1 255.255.255.252
no directed-broadcast
encapsulation ppp
service-policy output voice
!
interface FastEthernet0
ip address 10.1.1.1 255.255.255.0
no directed-broadcast
!
ip classless
ip route 10.1.2.0 255.255.255.0 172.16.0.2
no ip http server
!
access-list 100 permit ip host 10.1.1.2 any precedence critical
!
line con 0
transport input none
line aux 0
line vty 0 4
password xxxxxx
login
!
end

Neste exemplo, o roteador da Unidade 1 foi configurado para garantir que o tráfego de voz proveniente do IP 10.1.1.2 receba prioridade ao atravessar a interface Serial0. A configuração semelhante precisa ser aplicada no roteador da Unidade 2, com as devidas adaptações para os endereços IP locais.

Configuração para a Unidade Remota

A configuração para o roteador da Unidade 2 seria quase idêntica, com mudanças apenas nos endereços IP:

!
version 12.1
service timestamps debug uptime
service timestamps log uptime
service password-encryption
!
hostname roteador
!
enable secret 5 xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
enable password xxxx
!
class-map voice
match access-group 100
!
policy-map voice
class voice
priority 128
class class-default
fair-queue
!
memory-size iomem 25
ip subnet-zero
!
interface Serial0
ip address 172.16.0.2 255.255.255.252
no directed-broadcast
encapsulation ppp
service-policy output voice
!
interface FastEthernet0
ip address 10.1.2.1 255.255.255.0
no directed-broadcast
!
ip classless
ip route 10.1.1.0 255.255.255.0 172.16.0.1
no ip http server
!
access-list 100 permit ip host 10.1.2.2 any precedence critical
!
line con 0
transport input none
line aux 0
line vty 0 4
password xxxxxx
login
!
end

Considerações Finais

Com o QoS configurado, você garante que o tráfego de voz dos hosts especificados tenha prioridade na rede. No entanto, vale destacar que para obter o máximo benefício, o provedor de serviços de dados também deve oferecer suporte ao QoS. Dessa forma, os pacotes marcados como prioritários na sua rede continuarão a ser priorizados ao atravessar a rede do provedor.

Implementar QoS corretamente é um passo crucial para manter a qualidade de serviços críticos em redes modernas, especialmente à medida que o uso de aplicações sensíveis à latência, como VoIP, continua a crescer.

Se você tiver mais perguntas sobre roteadores cisco, sinta-se à vontade para entrar em contato.

Referências

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